Imagino você em sua sala, já cansada,
E mal iniciada a última aula do dia.
De repente, dos seus cadernos, do nada,
Cai um pedaço de papel, com rebeldia,
Que voa e pousa no chão, mais além.
Então fico a pensar que talvez
Você o esconda rápido também, com medo,
Pensando ter nele o meu nome e que alguém
Possa descobrir esse seu segredo.
Ousadia minha, quanta presunção...
Imagino você apressada, caminhando,
Cantarolando alguma melodia,
Cabelos já em desalinho, no rosto um ar brando,
Retornando para casa ao fim de um dia.
E numa avenida então, um carro rápido,
De repente, parecendo inofensivo, nada sugestivo,
Por um instante atrai sua atenção,
Interrompendo a caminhada ....
Então fico a pensar que talvez,
Você imagine meu rosto na janela,
E assustada retome a jornada
já com atenção redobrada.
Ousadia minha !! Quanta presunção ??
E na penumbra do seu quarto,recatada
Entre lençóis prepara-se para dormir, delicada.
Bem depois de já deitada, quase madrugada,
Quando uma sombra qualquer,
Um pulsar de luz colorida,
que sequer atrai a sua atenção,
não obstante, passa a ser importante!
Fico a pensar que talvez, por um só instante,
Talvez seu coração bata palpitante,
e num olhar atrativo, um transe sensitivo
imagine meu corpo junto ao seu,
num gesto licencioso,
e me convide para sonhar
um último sonho venturoso...
Ousadia minha,
quanta presunção...
Se você sequer me permite
Um único sonho audacioso, sem limite .
De arrebatada figura,
sou altivo, sou forte,
não carrego lutos e mágoas,
até um dia enganei a morte,
na sua faina de colher almas
e renasci.