Queria que tudo fosse livre de mim,
Nunca matar os dias com suposições,
Nunca sentir que eles sofrem imposições
De serem isto e não aquilo. É fácil, sim,
Mutilar o momento, aleijá-lo
Com expectativas, forçá-lo a definir-se
A si mesmo. Além de tudo que sou, o sol
Espalha seus raios como se por acaso.
A raposa come o próprio pé na armadilha
Para livrar-se. Enquanto manca pela relva,
É a terra que parece sangrar.
Quando chega, então, a luz do dia,
Quem sabe da dor que a noite leva?
De prova é que não vou precisar.
Brendan Kennelly, poeta irlandês, In: A time for voices. Tradução: Marcelo Tápia.