Eu vi-te, Senhor, chorando, no cimo do Calvário
erguido numa Cruz!
Por seres um visionário,
foste morto, ó pálido Jesus!
E senti um arrepio!Um ríspido desalento!
Que grandes provações,
teus íntimos suspiros, levados pelo vento
a tantos Corações ...
O Mundo rejeitou, o Amor do teu Abraço,
mas Tu, Amor Divino, abraçaste-o pela Cruz...
Paira agora pela Vida, paira agora pelo espaço,
a tua doce imagem, ó pálido Jesus!
Senti-me igual e escarnecido
no destino que vivi,
entre um sonho concebido
e a Vida que perdi ...
Ninguém havia que me chorasse,
ninguém, ninguém, ninguém,
tu tiveste quem te amasse,
junto à Cruz, tiveste tua Mãe...
E os Salmos repetidos, d'intima agonia,
são páginas escuras, de lívido horror,
missais de tímida alegria
do pálido Jesus, a soluçar d'Amor!
Ai Senhor que morte a tua,
tão fria, tão gelada, no quadrado d'uma Cruz!
Ricardo Louro
na Igreja de S. Domingos
na Baixa de Lisboa
Ricardo Maria Louro