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Hoje acordei com você.
Com o seu gosto em minha boca
depois do beijo onírico.
Nem a minha mais
inspirada imaginação
de possuir-te,
(no passado
que eu julgava remoto)
seria tão lucidamente
viva e tátil
como foi o teu beijo
no sonho.
Eu, que quando acordado
tenho beijado bocas
abençoadas e praguejadoras,
bocas de profetas e bruxas
e anjos caídos,
com volúpia, saliva
e lascívia,
nunca,
até então,
havia sentido a razão
pela qual se beijam os seres.
Naquela cama inventada
da cabana sonhada
minha boca sutil
aprendeu com a sua
uma alquimia universal.
Ah, sonho dos círculos sem fim!
Sonhos de beijos místicos
de desenterrar os mortos
que eu mesmo matei.
Eu te matei com um poema.
Enterrei-te embaixo de 7 versos,
soterrado pela terra da minha negação
em matar-te, amando-te,
e aos teus olhos.
Seu corpo seria dos vermes
que fartariam-se de prazer
em tuas carnes tenras
nunca tocadas por mim.
Ó reencarnação
do meu platonismo!
Ó lembrança fútil
dos meus ideais românticos,
tão surrados e rotos!
De que inferno viestes
trazendo a tira-colo
todos esses demônios
em sua saliva?
Cá estou,
comungando com mortos
ressuscitadores de desejos.
Eu não te quero!
Beije-me.
Desapareça como lembrança!
Venha me ver hoje à noite também.
Te espero com minha pena em punho,
matar-te-ei novamente
com versos ainda mais violentos
e te enterrarei em terras mais profundas,
nos abismos do meu inconsciente.
Vou te esperar dormindo.
Beije-me.
Salve-me de ti.
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