Nesta fria noite vadia
Povoada por fantasia
Fantasio sobre a Poesia
Ela que busco e aspiro
Aspirante a um seu suspiro
Tal como ar que respiro
Mas a Poesia é arredia
Foge de mim, quem diria
Eu, que a trato com simpatia
Neste quente dia presente
Cheio de cor latente
Sinto-me algo diferente
Pronto para ela capturar
A poesia perfeita encontrar
Mesmo que isso me possa custar
Mais que o meu olhar…
…morreria feliz sabendo
Que vivi com ela no pensamento
Angustiando mas amando
Amando mas também chorando
Agora que sou apenas eu
Um fino elo que a tudo cedeu
Lamento o que não amadureceu
Que ficou gestante e não cresceu
Mas ainda fugaz sinto
Sentimento que não minto
Pois a mentira foi capaz
De me levar com ela atrás
Nesta fria noite vadia
Procuro a minha poesia
Em vão no vão da escadaria
Mas não encontro nada
Deixo para sempre a escada
Lamentando deixá-la abandonada
Pois sei que bem perto
Estava ela por perto, decerto
Também buscando-me, é certo
E sei que a Poesia
Nem sempre é alegria
Carrega em si mais do que podia
E que pesado fardo por vezes lhe dou
Quando nela espanto os meus fantasmas
Que assombram a minha existência
Mas é uma questão apenas de sobrevivência
Que ela me perdoe um dia
Ou nesta fria noite vadia…