Espaço de cinzas
pejado de silêncio
além-das-chamas!
Altar-de-dor,
sem talhas
nem grandeza!
Santos ardidos,
sem rosto nem feição,
despojados de vestes,
além-da-forma-humana,
tão perto da criação!
Pedra gasta, derretida,
como a cera d'uma vela
que queima no altar!
Jazigo vivo em
cemitério humano
onde ecoa a voz-de-Céu!
Pedras-de-Silêncio ...
Tectos-de-Paz ...
Pesada História,
memória breve!
As chamas foram glória!
Queimaram o Passado
que é hoje tão leve ...
É aí, nesse intimo espaço
que me encontro!
Com as ondas da Vida!
Com a Luz das cinzas!
Pó sereno que hoje sou!
É aí que aguardo,
palavras ocultas,
suspensas no silêncio,
que me falem ao Coração ...
Meu pobre, perdido e triste
Coração - tão queimado
nas chamas da ilusão! ...
É lá que Renasço,
sempre que rezo,
quando a Vida
me pede que morra!
Porque morrer e renascer
é próprio da Vida …
É assim aquela Igreja
onde sempre encontro
o meu lugar!
Ricardo Louro
Na Igreja de S. Domingos.
À Igreja de S. Domingos que, ardeu em 13 de Agosto de 1959 em plena Baixa de Lisboa, e que, tem vindo, a pouco e pouco, desde 1994, a renascer das cinzas ...
Ricardo Maria Louro