Como posso convencê-los
se os parques e jardins abandonados
assustam visitantes e turistas
que chegam num ônibus lotado,
mas ainda possuem as melodias
que as máquinas de costura mecanizadas
podem fazer num confessionário
e nem sempre quem chega primeiro ganhou?
Como posso convencê-los,
se por alguns décimos de segundo,
a diferença é como giram a cabeça
ou piscam as pálpebras para ganhar tempo ?
Um barco solto às intempéries
passa solto pelos arcos e pilares das pontes
desde que seu núcleo esteja no centro de gravidade,
não se incline o eixo de rotação,
engula a língua e pinte a gota de tinta?
Como posso convencer alguém,
se quem congelou a fotocélula
saiu antes que pudesse explicar
ou encontrar a saída da cavidade?
Aparentemente não há conexão
entre as bandeiras desfraldadas
e a refração da luz numa taça de cristal
pode aquecer nos dedos uma bola de neve?
Ninguém jamais será convencido
se uma porta de carvalho
jamais tiver dobradiças transparentes,
nem mesmo seria o momento de ter
seis pinos fora de sincronia
girando em torno das paredes do quarto?
Acredita que pode fazer todas as coisas,
até balançar sinos da igreja com os olhos?
Não há como distinguir os ruídos da palavra dita,
nem mesmo contorcendo-se num espelho
tentando lamber a própria nuca,
ou ficar em silêncio por mais de uma década.
Esperava-se mais dessas palavras
que uma elegia a um pêssego atrofiado,
mas eu não poderia jamais convencer
ninguém a doar versos de outro modo.