Poemas : 

e la nave se ne va

 

"...amua a lua que flutua sobre a grua,
faz do cais uma grande feira livre ..."

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e la nave se ne va

I.
À medida que nossa nave altaneira
avança pelos atóis de corais
desviando das crostas do gelo fino,
o marujo da atalaia dispara foguetes
criando no céu tantas estrelas,
que começo a sonhar com arroubos
como numa noite de verão,
enquanto balas trançantes zuniam
cruzando os céus da cidade,
aproveita o céu e se cobre de gris
anunciando uma feroz tempestade.

II.
Dizem as estatísticas que os divórcios
ultrapassaram os casamentos em números,
que os atracadouros de barcaças são seguros,
as ações das companhias de petróleo
não vão parar de subir na bolsa.
Posso ouvir o marulhar das águas claras
num reino encantado encharcado e submerso;
a marcha dos desesperados e excluídos
ainda não ocorre durante os meses pares.
Lado a lado, um pouco de lazer acima de tudo,
enquanto lá fora uma escuridão perversa
traz muito mais que calor de um verão:
extrapola latitudes e altitudes,
gerando atitudes nas longitudes.

III.
Pessoas tentam fugir de cativeiros,
balançantes cadeias nas pontas das prateleiras,
ao ritmo marcante de fogo e balas,
ao ritmo marchante de baionetas,
esperando bandeiras desfraldadas.
Bem que podíamos tentar voltar,
vencer as ruas, íngremes subidas,
ladeiras ao redor do pelourinho
enfeitado por casarões de três andares,
todos de cores vivas e berrantes
contrastando com os barracos
como fundo da cidade antiga,
amua a lua que flutua sobre a grua,
faz do cais uma grande feira livre
trazendo nos mostruários dos feirantes
amostras de bolas de bilhar e cestos de costura.

IV.
E o mesmo tempo pendurado
sobre a rua, sobre a cabeça,
sobre o povo, sobre o lobo,
emitindo lúgubre uivo
e trovões com chuva a despencar
pulverizando o primeiro andar.
Alguns estranhavam,
mas para mim era tudo familiar:
os uivos lancinantes da matilha de cinzentos,
os rugidos dos trovões,
assobios dos obuses mensageiros da morte
sobre os arcos de pedra despencados,
mas nada obsta o navegar tranquilo
singrando os sete mares,
porquanto meio a tudo isso,
la nave se ne va...






" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."




 
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LuizMorais
 
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