Passam meses, passam horas, passam dias
e a Quarta-feira de Cinzas torna a chegar...
Traz a Quaresma, o luto e o penar,
que se ergue por aí, em lamentos e agonias!
E paira o Roxo pela rua-fria!
Cristo na Cruz torna a chorar...
E a noite-escura vem, envolvendo, a pairar,
como um triste-véu, a Cristandade fugidia!
Escurece o dia, geme o vento! Ecoam gemidos arrepiantes
tecidos em negros mantos, sudários por instantes,
expostos, permanentes, no Altar da Senhora da Saudade ...
E como sombras funéreas de dolorosas baladas,
erram gentes,tristes, desgrenhadas,
clamando p'las Igrejas, Misericórdia e Piedade! Piedade! Piedade!
Ricardo Louro
No Martinho da Arcada,
no Terreiro do Paço,
em Lisboa.
Ricardo Maria Louro