Amor distante que me escutas,
deixa-me, quando morrer,
caminhar até perder,
no interior das tuas grutas!
E em que esperança infinita
te poderei encontrar?!
Será que dormindo, enterrado no mar,
escutarei enfim teu palpitar?!...
Não quero cravos ou rosas
por sobre a minha sepultura ...
Antes quero a noite escura
das vozes silenciosas.
E soarão veladas, ladainhas finais,
entre responsórios errantes,
das viuvas dos navegantes,
na dor dos temporais!
E se na tumba das águas
meu corpo não apodrecer,
que te pesem as mágoas
do meu eterno sofrer!
Que só quando habitares esta guarida,
p'ra sempre a meu lado,
libertarás o poeta que em vida
tornaste infeliz e desgraçado!
Ricardo Louro
Chiado/Lisboa
Ricardo Maria Louro