Se toda a face calma
guarda outros revezes,
sendo o rosto tantas vezes
a mascara da Alma,
não serás tu,
o fogo d'amargura
que tantas vezes
em mim perdura?!
Também és o Sol de Maio
que meu Dezembro
alegra e aconchega,
bem sei!
Mas às vezes,
tornas-te um Outono,
que em Agosto,
meu corpo não tolera!
Minh'Alma ao ver-te,
brota, dança,canta, revigora,
como o dia ao Sol-Nascente!
Mas quando, de quando em quando,
tu me mentes, a cada hora,
minh'Alma séca, pára, chora,
como a tarde ao Sol-Poente!
E numa leve toada,
vem a noite,
e depois,
a madrugada!
Minha longa, fria e
timida NOITE - eternas horas de
Fado, poesia e desdem!
Sem ti - intima solidão!
E porque parti,
ausente,
não mais te vi!
Só Vós me entendeis,
Poetas errantes,
que sofreis e penais!
Almas negras de dor,
fantasmas vacilantes ...
Ai, que caminhos lânguidos
os nossos,
de versos e agonias
perturbantes ...
Ricardo Louro
no café, A Brasileira,
no Chiado, em Lisboa.
Ricardo Maria Louro