Nos longos madrigais
destes campos do Alentejo
andam moças aos Ais
de-desejo-em-desejo ...
Campos de trigo, campos de seiva,
plantados com suor por esta gente!
Que a Senhora da Orada lhos proteja,
hoje aqui e para sempre ...
E no Outeiro da saudade,
junto à Monsaraz do Coração,
há hortas, campos de piedade,
vinhedos, imersos em solidão!
E ouve-se ao longe, no Outeiro, uma canção!
É uma jovem com ternura e encanto
que canta e encanta a ilusão
ao ponto de calar até o pranto!
Agita-se-lhe o canto na garganta,
sai-lhe pela boca graciosa,
e toda a gente se espanta
ao ouvi-la cantar tão formosa...
Seus olhos quando chora,
sua boca quando ri,
são graciosas auroras,
pedras preciosas: esmeraldas e rubis.
E quando feliz ela passa
pela porta das gentes,
chamam-na: "- Maria da Graça!
Canta lá o que sentes ..."
Que Graça, que encanto, que ternura
levava a Maria no Coração,
qu'inda hoje, na memória, perdura,
a jovem Graça e a sua canção ...
Ricardo Louro
Chiado/Lisboa
À graça, à ternura e ao encanto, da sempre jovem, Maria da Graça, minha Mãe ...
Ricardo Maria Louro