“Que, de ardores contrários se excitando,
Sem pausa fere a selva, e furioso,
Quebrando ramas, flores arrancando,
Entre nuvens de pó soberbo assalta
Feras, pastores e lanoso bando...”
Divina Comédia - Inferno - canto ix
Por que da murta apenas respira fragrância nas várzeas brumadas,
bálsamo que emano rubro de tão alvas pétalas de sangue enodoadas?
Acaso sépalas amassadas tinge-se o busto no turbilhão do carmesim,
atentos senhores do universo jamais tal sacrilégio iriam permitir.
Talvez em outros vales haja outros arbustos de beleza memorável,
embaralhando frágeis suspiros de paixão ao gorjear dos rouxinóis.
Quem sabe tais remotas plagas quando Vesper anuncia noite calma,
exibam orgulhosa dama, a rainha entre as flores, a mais aguerrida.
Seja a flor da noite embalada ao som de simples e tolos poemas,
e se adormecer sem sequer um sonho bom terá a mim para culpar;
mas não aumente vil sofrimento recordando que um dia fui feliz.
Não pergunte porém, onde estão doces beijos de tanta paixão;
posso ter esquecido, mas residem em cada pétalas destas flores:
"- Dá-me a mão e não tenha medo das flores que medram ao luar."
[ sim, as há,
sob a luz do luar,
perfumadas,
encantando os poetas]