Vão as ternas águas
do Rio Tejo, descendo
calmamente até ao Mar,
e vão no seu caudal
minhas tristes mágoas,
frias, duras, eternas, afinal!
E ajuntam-se na margem
minhas lânguidas tristezas,
minhas pedras, minhas dores,
vão no seu caudal as amarguras
das minhas longinquas profundezas!
Poeta, verso, quadra em desalinho,
meu triste coração em pranto,
chora a pena infeliz do meu destino,
que as águas frias do Rio Tejo,
levam ao mar o meu quebranto!
Canta Alma! Canta! Ergue a voz dorida
às noites frias que te escutam,
à sua imensa solidão!
Tua dor, inda é do mar desconhecida,
mas em breve, tão breve, o Tejo, a chorar,
limpido, audaz e infinito,
a levará ao coração do Mar!
Abre as asas feridas, impolutas,,
esvoaça o ceu azul e frio,
rasga a Alma em intensas revoadas
e deixa o Tejo levar ao Mar
as densas horas do teu estio!
Que o Amor que cantas, imortal, ascende
como incenso na igreja pelo ar ...
Ó saudosas horas do meu Tejo,
tão frias tão longinquas, tão doridas,
guardem e resguardem, levem este beijo
às quadras dos meus versos tão dormidas!
Ricardo Louro
- No jardim do Quiron,
frente ao Tejo,
no Chiado, em Lisboa -
Ricardo Maria Louro