Ontem senti a tua falta. Entranhou-se em mim a tua ausência,
E uma estupra vontade de que o que foi ainda ontem o fosse.
Porém, tenho-te do mesmo modo, nos meus braços vazios,
No meu peito condensado em ti, sem qualquer influencia
Das tuas palavras agrestes que entregaste em minha posse.
Ontem senti a tua falta, apesar dos teus braços serem agora frios,
Bruscos e a sua cor rosada ser, somente, enganosa.
Ontem senti que tudo acabou… tudo, mesmo tudo!
Até as noites que pintámos de ouro, os tolos dias que cobrimos de prata
E a praia deserta que preenchemos, a praia que era só nossa!
Ontem senti, pela primeira vez o Inverno carrancudo
Na carência do abraço, que me deste por carta.
Ontem senti a tua falta enrodilhada no abandono,
Na paz de alma que só reina durante o sono,
Porque nele repouso contigo e sonho
O que outrora sonhava acordada.
Ontem foi longa, terrivelmente demorada,
A minha, somente minha madrugada.
Foi larga como todas as outras que não sentes,
Madrugadas que em mim te revelas ausente.