E eu, quando ouvi a primeira vez,
o choro do violino
que o rapaz em Niterói, tocava,
enchi o coração de uma mistura de angústia e embriaguez...
Era o meu tango preferido,
que ele ali, no meio da multidão que passava na calçada,
soava em acordes que alcançavam minha alma...
Queria ficar ali, perdida naquele som, que inebriava como vinho tinto, na taça.
Dói meu coração quando relembro, pois enquanto eu daria tudo para levar aquele som comigo,
e cobrir aquele jovem de gratidão, por momentos de pura beleza,
outros passavam e no corre corre não reparavam,
que na Arte, se encontra uma espécie de alimento.
Acho que anjos tocam lá em cima,
e os dons se abrem em mãos preparadas para recebê-los,
pois somente dessa forma pode-se explicar,
o porque da música fazer-nos viajar...
A angústia, era de saber que ele não era aproveitado em uma orquestra, teatro, ou até em outro lugar.
Talento assim, desperdiçado em ruas, que tão pouco conseguiria de gorjeta...
Quando deveria estar brilhando em um palco,
suavemente deslizando aquele arco...
E sempre se repete para mim, o mesmo sentimento:
Toda vez que passo por ele, e com olhos marejados o observo,
tocando como um anjo, sem a devida recompensa...
Um anjo jovem na Terra, que chora um desespero nas cordas do violino:
A urgência do ser.
Que até aquele momento, nada além, poderia fazer...
FÁTIMA ABREU