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O PESO DAS REALIDADES

 
O PESO DAS REALIDADES

Desanimar é próprio dos mortais,
Que procuram no pranto uma saída!
Caminhando por entre vendavais,
Lutam fracassam, já hão podem mais,
E vem constantemente a recaída!

Da tua vida fiz retrospectiva:
Oh, tantos dissabores encontrei!
Em mar revolto, qual barco à deriva,
Esse olhar triste e doce me cativa…
Eis, pois, as conclusões a que cheguei:

Martirizada, desde bem pequena,
A sorte caprichou em te agredir!
De vez em quando, contas cada cena…
Tão cabisbaixo, é grande a minha pena,
Pois sinto-me incapaz de te acudir!...

Foste crescendo, e a vida não mudou:
Há sempre mais tormentos que alegrias!
Querida amiga: quem te condenou?...
Será que o justo Pai, que nos criou,
Não te vai dar também felizes dias?!...

Há sortes tão diversas, no teu lar!
E a tua, não melhora, infelizmente!
Em quem devemos nós acreditar?...
Um ser humano pode soçobrar,
Quando só decepções tem pela frente…

Mas quem sou eu, que envolto na descrença,
Desejo confortar-te, dar-te a mão?
Nefasta pode ser minha presença,
Pois sinto que não há quem me convença
Que poderei vencer a solidão!

Ninguém vive de boas intenções;
Mas estas fortalecem a amizade!
Comungaste de tantas decepções!
E transformas as minhas decisões,
Quando chegas, na hora da verdade!

É dívida que nunca pagarei,
E neste coração calou bem fundo!
Quando em escuro abismo mergulhei,
Nem um momento apenas duvidei
Que és das boas amigas, neste mundo!

Bendita a hora em que te conheci!
Meu desabafo é fruto da franqueza!
E só por ser gostado assim de ti,
Quando ontem teus problemas revivi,
Cobriu meu rosto a mais cruel tristeza!

Tratámos de fazer comparações:
Ficavas sempre desfavorecida!
Sejam revoltas ou desilusões,
São resultados desses trambolhões,
Que inevitavelmente dás, na vida!

Mas, ah! Não tive forças, nessa altura!
Fui apanhado quase de surpresa!
Quisera acarinhar-te, criatura;
Porém foi tal a minha desventura,
Que no silencio achei uma defesa…

Vergado ao peso das realidades,
Baixei os braços; não te dei conforto!
Não resistimos às fatalidades!
Eu julgo que as sinceras amizades
São mesmo assim. Mas, eu… estou quase morto…

Já não sou aquele homem de outras eras,
Capaz de fazer rir a toda a gente!
Deixei de crer em sonhos ou quimeras,
Que se passa comigo? Isto, deveras…
És tu, caruncho? Vens precocemente…

Quando assim é, não há nada a fazer!
Talvez pensar na última viagem!
Todavia, quando isto acontecer,
Quero levar comigo, ao falecer,
A tua tão querida e doce imagem!

Se a fé voltasse, eu pediria a Deus,
Por ti, que melhorasse a tua sorte!
Porém são tantos os pecados meus…
Outro o faça, por mim, que amigos teus…
Sempre há-de haver algum que te conforte!...

Oh, que a felicidade, sim, querida,
Te beije as faces; entre em teu caminho!
Numa atmosfera sã, descontraída,
Tenhas a vida a meias repartida,
E possas construir, feliz, teu ninho!...

 
Autor
FRANCISCO QUARTA
 
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Enviado por Tópico
visitante
Publicado: 10/01/2008 08:47  Atualizado: 10/01/2008 08:47
 Re: O PESO DAS REALIDADES
Poema extenso e denso, de fino recorte literário, que acima de tudo tem a autoridade da experiência. Merece uma atenção cuidada. parabéns. Abraço.
h@p