Caminhamos em silêncio pela estrada deserta e não nos vemos
Olhamos o chão como quem procura algo de indefinido e inatingível
E continuamos o nosso caminho num passo lento e arrastado.
Subitamente, olho em volta. Parece-me ouvir um rumor longínquo.
Os meus olhos ávidos percorrem a estrada uma vez mais.
Avisto uma forma que me prende o olhar, sem saber porquê.
É uma forma estranha, que caminha como eu, embora de forma muito mais inconstante.
Aproximo-me. Olhamo-nos nos olhos.
Algo me diz que o caminho vai mudar.
Levanta-se o vento, a chuva começa a cair, mas continuo a olhar.
É tudo tão repentino. As palavras escorregam-nos em cascata,
Formam um rio enorme que acompanha as curvas da estrada,
Até desaparecerem ao longe no horizonte.
Eu tomo consciência da mudança da forma em ambos.
Transformo-me a cada passo que dou e a cada palavra que construo.
Aos meus olhos, a massa vai-se modelando, ganhando cor
Vou percebendo o perigo que se adivinha.
Tarde demais.
O caminho não vai voltar a ser igual,
Os passos nunca mais vão encontrar o mesmo ritmo,
A massa não voltará ao anonimato.
E eu não voltarei a ter paz.