Nas esquinas, no comércio,
nas ruas, nos portões...
encontro sempre um coitado
a mendigar o pão.
Pessoas vêm e vão,
Mãos generosas doam
Desapiedadas repulsam
Olhares que arfam
Entre brandura e aversão...
Talvez sejam outros mendigos
a quem paradoxalmente nunca faltou o pão.
E o que será que mendigam?
Uma porção de alegria,
um abraço fraterno,
o mínimo de atenção
uma companhia nada incerta,
apoio, afeto, compreensão...
Não terem as mãos estendidas limita a percepção
do nosso olhar apressado,
de baixa resolução
se o registro foge ao óbvio e inevitável.
Combinamos ser gentil
atirar qualquer moeda
que rola e retine em bacia de metal.
E então seguimos em frente tão pura e simplesmente
talvez sem jamais perguntar
o que se passa por trás
da complicada colcha de retalhos
tecida pelos sentimentos que silenciam todo mendigo.