Havia algo misteriosamente perigoso naquele homem quando ele saiu daquele lugar medíocre, de mulheres fáceis e embriaguez crónica. O chapéu de coco que usava dava-lhe um aspecto macabro.
Quando saiu colocou um monóculo que lhe evidenciava uma cicatriz fustigada pelo tempo.
A noite estava ferida de morte e sobre a rua mal calcetada, caía uma cortina baça e húmida.
O homem afastou-se coxeando marcadamente e desapareceu.
Na rua havia um silêncio apenas corrompido pelo barulho distante do bairro rico. Era estranho... nem o piano que o velho costumava tocar naquela casa perdida, se fazia ouvir.
Vindo do outro extremo da rua, chegava um habitual de dimensões generosas, na demanda de um amanhecer de prazer. Quando entrou, não se ouviram as gargalhadas do costume. Não demorou a sair. Cambaleava como se estivesse embriagado. Caiu. Os seus olhos bem abertos tinham visto mais do que lhe era permitido suportar. Para ele a morte chegou como uma visão.
Valdevinoxis
A boa convivência não é uma questão de tolerância.