A bem dizer, a ciência não é poder e os cientistas por terem conhecimento não decorre daí que tenham o poder. Por outro lado, poder não é ciência e quem detém o poder não detém, necessariamente, conhecimento científico. Em rigor, o cientista apenas conhece a realidade. A partir do momento em que age, já não é propriamente como cientista, mas como agente e aí, sim, exerce um poder. A ciência não tem nada de perigoso, nem de mal, porque a ciência não interfere, nem altera a realidade. O perigo e o mal estão na ação e no agente. É importante não confundir o conhecimento das coisas com a manipulação das coisas. Sabendo nós que o poder não costuma estar nas mãos dos cientistas, mas que estes costumam estar nas mãos do poder, afigura-se altamente perigoso e de controle difícil ou impossível, um conhecimento da realidade, não pelo conhecimento em si mesmo, mas pela ação que esse conhecimento possibilita.
Diria que a associação da ciência à técnica tem algo de paradoxal, na medida em que a ciência é objetiva, imparcial, eticamente neutra e não tem objetivos, enquanto que a técnica corresponde à não aceitação da realidade. Nesta é que está o perigo e as ameaças.