Poemas : 

@ANDEJO - Cigano.

 
Tags:  Cigano.  
 
eu
brincava de colher água
escapava por entre os dedos...
eu
me vestia de anjo
asas-sonhos, procissão...
eu
fingia ser Neruda
rabiscava o que queria ver-ser...
eu
zoava de esconde-esconde
ao fim de cada tarde me escondia do sol...
eu
tinha um esconderijo secreto
lá, minhas pérolas de gude...

invadia as ruas, escalava muros,
invertia as ordens das coisas,
não me importava, nadava as horas...

o horizonte, um longe, tão longe,
fantasia, imaginação,
castelos de areia...

cigano, jogo de cartas,
leio-escrevo-reescrevo
as linhas das minhas mãos...

 
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cavenatti
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Enviado por Tópico
Margô_T
Publicado: 30/07/2016 16:53  Atualizado: 30/07/2016 16:53
Da casa!
Usuário desde: 27/06/2016
Localidade: Lisboa
Mensagens: 308
 Re: Cigano.
Viajando por um tempo ido,
vê-se a “água” a escapar “por entre os dedos” da criança
que se “vestia de anjo” na “procissão”, cobrindo-se de “asas-sonhos” enquanto se fingia Neruda, rabiscando “o que queria ver-ser”… lendo esse poeta que escrevia “Gira o vento da noite pelo céu e canta”, encantando a criança que se escondia do sol e dos outros, animado, pelas tardes
correndo para o “esconderijo secreto” onde os berlindes se lançavam na terra, invadindo “ruas”, escalando “muros”, jogando “cartas”, invertendo “as ordens das coisas” porque as horas não importavam (e a criança “nadava” nelas).

O “horizonte”, o futuro, era “um longe, tão longe” que não havia espaço para ele com tanta “fantasia”, “imaginação” e “castelos de areia” apinhados.
Mas aqui, olhando para trás, escreves, reescrevendo-te, enquanto lês “as linhas das mãos”. Neste poema que nos leva em viagem e nos faz correr pelas tardes sumarentas dessa infância cheia de movimento.