Encontro Casual
Um encontro casual.
Foi o que aconteceu.
Bem, isso, se acaso existe...
Micaela e Jordan. Duas pessoas com os mesmos ideais. Classes sociais diferentes.
Embora Micaela disfarçasse muito bem sua condição financeira.
Alugava um terninho quando precisava. Os sapatos comprava em um saldão de loja. A maquiagem, em lojas baratas de periferia, onde vendiam produtos MADE IN CHINA.
As bolsas em brechós de primeira, onde poderia comprar semi novas, às vezes sem uso nenhum:
Estavam ali só por um defeitinho de fábrica, que Micaela disfarçava bem com um lencinho amarrado na bolsa.
Dessa forma, levava a vida com seus apertos. Mas, sempre conseguia um emprego, mesmo que temporário.
Cada vez que conseguia empregar-se, mudava o tom da cor de cabelo. Por que fazia isso?
Nem ela sabia! Talvez achasse que daria sorte e que ficaria empregada por mais tempo...
Jordan era um francês que morou quase toda a vida na Inglaterra, pois fora adotado desde seus 2 anos de idade, por uma bom casal que não podia ter filhos. Em visita à França, resolveram ir até um orfanato.
E lá, apaixonaram-se de imediato pelo menino magrinho de cabelos castanhos, com incríveis olhos atentos ao redor, que continham um verde quase translúcido.
Nada faltou para si em toda vida.
Já para Micaela tudo era mais difícil!
Teve que trabalhar desde muito cedo em casas de família abastadas. Era uma arrumadeira aos 15 anos, que um dia sonhou com grandes coisas para si...
Quando estava com 17 anos, o filho do meio dos patrões, um dia a violentou. Ela foi se queixar aos pais do jovem, que apenas olharam para ela com um tom de pena, e deram-lhe uma boa quantia para que tentasse a vida em algum outro lugar. Advertiram que caso ela ficasse grávida, que lhes dissesse, pois tomariam as devidas providências...
Isso para eles significava uma única coisa: Um aborto!
Não, Micaela felizmente não engravidou.
Claro que ela não gostaria de estar se sentindo "silenciada", mas nas suas condições de órfã, e sozinha no mundo, teria que aceitar aquele dinheiro que lhe ofereciam...
Com a quantia que tinha nas mãos, viajou para a Inglaterra.
Lá alugou um quartinho com banheiro na periferia.
Comer? Quando desse! Em algum local que tivesse pelo menos café e torradas com geleia de frutas.
Já estava há quase 4 anos dessa forma.
Foi quando chegou em um Café (para sua parca refeição do almoço), e ao seu lado sentou-se Jordan.
O Café estava lotado, e havendo apenas um lugar disponível ao lado de Micaela, perguntou se ela não se importava que ficasse ali:
_ Incomodo se sentar aqui?
_ Imagine! o Café está lotado. Pode ficar à vontade. Não gosto mesmo de sentar sozinha para comer...
Já faço isso todos os dias. Sempre bom ter com quem falar, para sair da rotina, não acha?
_ Bem, eu falo com muitas pessoas todos os dias. Pelo jeito, você não...
_ Sim, é isso. Sou uma solitária. Fiquei órfã muito cedo, e tive de me 'virar' para não ir parar numa instituição para menores.
_ E como foi isso?
Ela então começou a falar sobre uma vida que não era a sua, uma fantasia que havia criado, para esquecer tudo:
_ Quando meus pais morreram em um acidente de carro, o juiz deixou minha tutela com meu tio avô. Mas ele morreu seis meses depois. Eu fugi logo depois do enterro: As colegas do colégio ali presentes, disseram que me poriam em um orfanato até a maioridade.
Eu arrumei uma pequena mochila para disfarçar e saí andando pela estrada. Um casal viu e quis me levar para um posto policial, eu então disse que se me deixassem em casa da minha prima perto do Canal da Mancha estaria tudo certo, pois ela já me esperava.
Visivelmente, não acreditaram muito. Porém, acharam melhor fazer o que eu pedia.
Se eu tinha para onde ir, era melhor!
Assim eles me deixaram bem pertinho do canal.
Logo, fui até a casa da prima e contei-lhe tudo.
Ela ficou bem chateada por eu ter fugido, pois era mais fácil eu tê-la avisado, para que tomasse as providências.
Assim, fiquei com minha prima, que era pelo menos dez anos mais velha que eu, tinha emprego fixo e sem filhos. Fizemos companhia uma a outra... Até que um ataque cardíaco a matou. Fiquei sozinha, novamente...
Jordan escutou e refletiu como seu mundo era diferente daquela moça ao seu lado...
Perguntou então:
_ Tem emprego?
_ Bem, sou 'free'. Quando surge um, eu pego. Com toda essa crise na Europa está difícil para todos...
_ Estamos conversando e não sei seu nome ainda... O meu é Jordan.
_ Ah, é mesmo! Sou Micaela.
Apertaram as mãos. O que poderia dar em um futuro romance, era muito mais que isso:
O destino havia traçado sua teia...
(continua)
Fátima Abreu