Você a tudo assiste,
não quer perder,
não pode ganhar,
reverbera ,
nada dá em troca.
Vive e respira tranquila,
serena, como um muslim;
ante as nevascas, fria,
sequer se importando
com o gelo da nova era
cobrindo os cálices decíduos das bétulas ,
nem com neve no jardim.
Pensando nisso
menti sobre a idade da terra,
sobre o céu ser azul.
Não há varandas,
mesmo vista do espaço,
como na visão de Gagarin.
Sinto medo,
verdadeiro pavor
do paraíso assustador meio ao paul,
norteado por ponteiros
de um relógio analógico
crédulo de festim.
Sei que menti,
a consciência acusa-me.
Sei bem que muita gente
não gosta de quem viu
a terra do espaço;
fora da assustada gaia
tocaram seco solo selenita;
lá não há flores,
há um mar sem praia.
Porém, tenho uma certeza:
qualquer um
-nisso creio firmemente,
poderia ter-me dado o relógio
mesmo sem ponteiros analógicos,
máquina fria registrando o asco
do passar do tempo escatológico.