Esqueci
as orientações bíblicas do vento leste
que me levariam ao paraíso -
numa dobra de nuvem,
no decote do vestido que me deste,
nos bolsos do tempo,
nas tuas partidas sem aviso
nem advento.
Porque,
como as manhãs nascem por cansaço,
assim o vincar lento das esperas
é vício mecânico às asas de origami
dos pássaros que rasam os meus olhos.
"- Que queres...?
a seda é uma rota de sentidos,
um deslizar de fluídos,
um toque frio e doce,
em intermitências de brisa,
nada mais..."
E eu
que, dentre as coisas essenciais,
creio além da polpa dos dedos,
aquém dos mapas pontuais
e da finitude dos mares;
eu, que acho a textura dos medos
um preâmbulo de viagem,
um caminho descoberto na faísca
que nos funde os olhares...
fiz de conta que não ouvi o que disseste,
e voltei à sequência das dobras,
nas minhas mãos clandestinas.
O papel é matéria que o tempo divide
em barcos de brincar
-
e eu só hei-de
crer que o amor regressa sendo
primeiro em cada vez,
como quem mente dizendo
que não há duas sem três.
Teresa Teixeira