caneta selvagem percorre a folha virgem
num incontrolável movimento
num espasmo impulsivo
num espaço incoerente
inspiração solta e desobediente
foge desesperada ao pragmatismo
dogmático da matriz
escravo da liberdade quebra correntes
sem respeito por mestres regras e métricas
teorema da mágoa
geometria de uma alma assimétrica
viagem sem ponto de partida
nunca pára nunca pára nunca pára
luta sem tréguas em busca do fracasso
entre o raciocínio sentimental e a loucura razoável
paz inexistente procura no fundo a harmonia da forma
febre de imagens imperceptíveis e fugazes
fome insaciável de metáforas improváveis
escroto escrito
ninfomania do coito lírico
queimando no gelo de um inferno idílico
pesadelo agradável acorda no susto de um sonho
rosto de um sofrimento risonho
banhado na água seca de lágrimas alegres
verdade mentirosa ouvindo a mentira da verdade
numa só palavra
POESIA
poeta que queres tu
deixar escrita a tua marca no mármore do tempo
ou ires a tempo de ouvir os aplausos do público
nesse mundo pálido não há lugar para ti
coração inválido atrofiado estropiado e partido
incompreensão
sepulcro
esquecimento
túmulo