Senhor! E aqui estou. Inclinado ao dissabor
das horas das minhas ilusões que o tempo
amargurou. Que a dor desiludiu, dilacerou ...
Ajoelhado aos pés d'um intimo clamor
que a Vida me pediu, perdoai, Senhor,
sempre que minh'Alma vos não ouviu. Perdoai!
E aqui estou. Sedento de Vós, ausente de mim,
consciente de Nós. Porque eu sem Ti, Senhor,
que sou?! Nada mais que um corpo sem Alma
que p'la Vida passou ...
ou um pássaro errático que p'los Ceus voou ...
Senhor! Senhor! Aqui estou. Ajoelhado na poeira
dos dias que me deste, longe do destino
que outrora me concedeste - morto - sem tino...
E Tua Voz ecoa: "Onde te perdes-te? Onde?!"
Não sei Senhor! Nem sei se algum dia me encontrei!
Inclinai da Cruz o vosso olhar, e Vede,
vede-me a chorar ... Aqui! Estou! A rezar!
Prostrado aos pés da Cruz do vosso altar.
Sem nada! Deixai-me entrar!
Porque minh'Alma só, resvala ...
Chorar, pedir, rezar: que mais fazer p'ra que
me possais escutar?! P'ra que me deixeis entrar?
"- E onde quereis vós chegar?"
- Ao Vosso Coração Senhor! Ao vosso Coração!
"- E estais disposto a morrer p'ra vós?"
- Sim, Senhor. Porque estou só e cansado de sofrer!
"- Então, secai as lágrimas e ide!
Ide e abraçai o primeiro pedinte que encontreis!
Ao fazê-lo, será a Mim que o fareis, Serei Eu que vos abraçarei! -"
- Sim, Senhor, d'hora à vante, p'la Vida fora, assim farei ...
Por Deus,
com Deus
e em Deus.
Ricardo Louro,
na Igreja de S. Nicolau na Baixa de Lisboa.
Ricardo Maria Louro