Poemas : 

Uma medida drástica

 
Uma medida drástica
 
Após mais um dia de trabalho, é surpreendido com o latido de um cachorrinho a sua porta. Tão frágil, tão pequeno, tão criança. Rapidamente, aquele pequeno ser o cativou. Observara que ele tinha todas as carências do mundo, da alimentação ao afeto. E isto fora notado logo que ele serviu o primeiro prato de ração: a voracidade com que devorou o prato atestava isto. Nos primeiros dias, tudo correra bem, o novo integrante da casa comportava-se bem (mesmo fazendo algumas peraltices, como querer morder o fio do computador ou mastigar um par de tênis).

Certo dia, no entanto, chegando em casa estafado (o trabalho exigira dele mais do que nos outros dias) ele só via uma cama. Só enxergava o prazer de dormir o “sono dos justos”. O cãozinho tinha a sua frente uma tijela cheia de ração e outra cheia de água. Assim, foi cobrar a cama a sua recompensa pelo dia que teve. E caiu nos braços de Orfeu. Ocorre que, às 03:04h era esta a hora que o relógio marcava) o pequeno começa a latir, de forma desesperada, alto e com um timbre fino capaz de acordar um quarteirão inteiro. Levanta-se contrariado e vai ver o que está acontecendo. Nada vê além do cãozinho que late ininterruptamente. E por mais que ele diga para ele parar, o minúsculo ser continua seu latido.

Então, tomado de uma ira incontida, ele pega uma faca – a mais afiada que tem – e fura, rasga, corta, com a maior facilidade e deixa esvaziar todo o líquido que escorre. Não havia mais o que fazer: tudo estava consumado. Quando não restava mais uma gota sequer, então ele ordena: toma, toma este copo de leite e me deixa dormir!

(Danclads Lins de Andrade).

 
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Danclads
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