Mágoa
Come na minha mesa
dorme ali ao lado
é a penumbra da minha manhã
e o desassossego da noite serena...
É a gota de sangue
da minha veia aberta
a lágrima suspensa
do meu rosto apagado...
É a pergunta ansiosa
do meu olhar vidrado
o ranger de uma porta que
permanece aberta
e o fru - fru dessa cortina solta.
Colada a mim como um verme nojento
descansa no sofá da minha sala
e respira o ar que eu exalo...
Toda a vida a vê-la
a pressenti-la
a espiar-lhe o rosto e o arfar
é a névoa da tarde pardacenta
e o gotejar da janela embaciada...
Envolve-se no ar que eu respiro
no meu cheiro, no meu gosto
no meu ser...
Para sempre... para sempre
para sempre...
É só olhar e ver...
Não vale a pena tentar
sacudir
gritar
esbracejar
romper...
Rasgo a alma só de a
expulsar...
Mas ela permanece...
Até morrer!
Maria Helena Amaro
Abril, 1995
(Prémio Camões)
http://mariahelenaamaro.blogspot.pt/2014/01/magoa.html
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