Incorporo neste instante o espírito das águas...
A natureza em mim deságua o espelho do mundo
E me vejo refletido numa inspiração líquida
Em que o doce e o salgado se revezam pálidos
À cata da palavra que os tornem reflexão
Mediante o descaso e a luxúria de que são vítimas...
Mares e oceanos que foram corredores de tantas conquistas
São atropelados pela ação nefasta de um progresso doentio
Que faz da fauna e flora aquáticas escaravelhos de uma patologia
Recheada de parasitas, vírus e bactérias que homicidam o universo...
Rios, lagos, regatos, são afluentes de constantes enfermidades
Provocadas pela isenção de escrúpulos do raciocínio lógico
E, paulatinamente, são retratos de solos rochosos e sem vida
Que abundam nas consciências invertebradas dos seres humanos
E fazem da poluição o carro-chefe de uma política desavergonhada...
Crime ambiental que macula a virgindade da existência...
Lençóis freáticos envenenam a sede dos que bebem injustiças
E os aquíferos da terra saboreiam a catarse da imprudência...
Nos polos o degelo anuncia o dilúvio das gerações futuras
E certamente não haverá um novo Noé para salvaguardar as espécies...
Só lama restará nas camadas da atmosfera terrestre...
Cinzas e ruínas: heranças de um éden tão sonhado
Cobrirão todos os espaços transformados em vácuos
Diante de um ambiente desértico... Sol e lua perecerão...
Este é o quadro que se pinta do porvir tenebroso
Em uma tela deveras fosforescente da imaginação
Que o artista não cria visto tratar-se da densa realidade
Presente nas derradeiras lágrimas que teimam umedecer
A face da astúcia que sonega os princípios da Criação...
A semente da ambição desnutre os preceitos do Bem!