MATAS-ME
Que traicoieiro se afigura o amor;
seco, amargo e frio, já nem me vejo
nos contornos da imaginação, da dor
foram pétalas caindo do teu beijo,
foram beijos entre dentes amarrados,
pedaços de pedaços recortados.
Baixo os olhos e arrasto pelo chão,
abafo o brilho e enxugo-me de pó,
rasgo no peito o que julguei ser coração
e abro a mão, tão triste e só.
Que ousadia desmedida a da esperança
que me deu e retirou o dom de ser criança.
Desenterrei sonhos, na cova do passado
e vesti sorrisos, cortados das traças.
Dei brilho ás manhãs, e apaguei o fado
triste e esburacado, em tantas desgraças.
Do fundo do poço já não vejo a luz
e a esperança perdida...não sei onde a pus!
Deitem sobre mim a terra fresca,
libertem-me desta dor desfigurada.
Já me despi de tudo o que não presta,
levo apenas este amor...que não vale nada.
Podia ser tão grande, tão forte
não o quiseste. Talvez o queira a morte.
BEIJA-FLOR