Eu sou a chuva que nunca cai, o sol que nunca nasce.
Sou a hora que nunca chega, o tempo que nunca passa.
Sou tudo, sou nada e ainda não sei quem sou.
Sou a peça perdida do quebra cabeça, sou o verso que não se encaixa.
Sou um momento, um vulto, um vento.
Sou eu mais você na mesma constância que sou eu e mais ninguém.
Sou quem ?
Sou um alguém.
A melancolia de uma flor afogada em sua própria terra.
A indescritível depressão de um passado não praticado.
Sou um olhar escondido.
Um abraço aguardado e por fim, guardado.
Sou o espaço na gaveta, o ultimo na sarjeta.
Demente na arte de viver, crente na arte de apenas ser.
Sou aquele que não quis nascer mas não ouso morrer.
Suicida imortal, atemporal.
Sou uma lágrima presa no canto do olho, envergonhada de escorrer.
Vermelhidão ocular, vulgar.
Escondo-me quando alguém tenta ver.
Sou cruel na boca de quem se abre e impiedoso nos ouvidos de quem ouve.
A angústia do silencio, o soluçar no intervalo de cada titaquear.
Sou o livro esquecido na prateleira, quem sabem alguém algum dia me leia, queira.
Quem sabe algum dia ...
Deixa para lá.
Não vou voltar ao sonho que me iludia.