AO FIM AO CABO
Dentro da noite que acende o pranto
Me remendo a pontos largos de chuleio
Aparelho as rédeas soltas em decanto
Neste imenso em mim, que é quase tanto
Como a nada que esperei, e sempre veio.
Revesti-me de talentos, me poli,
Vaidoso, narcisista e convencido.
Os trajes que me deste, eu os vesti,
Eu os usei,
E os rasguei
Mas já não sei
Quando os despi.
Quisera-te cingir, roubar o cabo,
Não fosse ao fim ao cabo este meu querer;
Ter-te em mim num corpo quente, abandonado,
Demorando em mim o tempo do pecado
Que trago ancorado,
Desde o nascer.
E cresce em mim o pêndulo do acto,
Mudo de roupas e revisto-me de penas!
Me pinto de mil cores em abstracto,
Me escrevo a sangue vivo, me retrato
Nos rostos encobertos dos poemas.
Me dou em prados, para que possas repousar.
Soltando o riso da ternura e do cansaço,
Pinto a primavera em teu olhar,
Faço da terra, o teu respiro o teu folgar,
E do meu lar,
O teu regaço.
Vem toda nua, minha sina, minha amada!
Assim te espero, neste manto de desejos!
Quero de ti a pele macia e acetinada,
Para cobri-la meu amor, vestida à beijos.
Beija-flor