Da abelha tiro o mel e faço do favo doce a vida
No cascalho faço atalhos pra encurtar a dura lida
Do carvalho traço o aço e faço a nova segura morada
No orvalho deito e durmo calmo no colo novo da amada
Na telha faço a mira e a sorte logo atira e me protege
No agasalho me fujo e o frio que me segue morre duro
O amor é ladeira cravada na montanha que assanha a saia da moça
O amor é lavadeira que arranca o sujo e torna limpa a pele dura
Não quero nada porque tudo acaba e o nada é eterno, desde o início
Um cheiro me basta, um vento das asas de um beija-flor me basta
O silêncio das estrelas brilhando é eterno, um espaço sem portas
O fim da espera é um novo tempo, esperar sem esperança é eterno
Mesmo quando o tempo perde a cor, a cor fica no tempo que se espera
Corro e sem pressa chego, a vida tem pressa e meu amor me espera
José Veríssimo