(Jádison Coelho)
"Olhe cá, menino, olhe!
Olha cá o que preciso te confraternizar".
Assim vóinha me chamava para pentear os meu cabelo.
E eu, que era apenas um pentelho e mal sabia andar,
Já escutava vóinha contar sobre o menino Deus...
Sobre a ceia...As cantiga do Império do Divino...
O Natal das tradição da nossa gente...
Que saía de porta em porta cantando em romaria...
Para conseguir um quê de beber... .
Um cadinho de comer...Um quê de vestir...
Para nossa gente se proteger da seca dos muito...
Da fome do pouco que ainda nos foi restado...
E do frio do Deserto personificado.
"Olhe cá, menino, olhe!
Olha cá, que preciso te alumiar as memória".
E só para me ter preso entre tuas perna
E terminar de desaraminhar com um pente fino
O meu cabelo araminhado,
E terminar de com os dois polegar esmagar os piolho
Que eu ajuntava de mês a mês na cabeça,
Dizia jeitosa vóinha:
-Daqui onze luas, moleque,
Isso aqui vai ferviar c’uma renca de gente.
Há de ter fuguete, as cumida, as dança e mais fé.
Daqui onze dias, Passarinho,
Nessa terra ele vorta a pisar os pé.
É Fulia de Reis e assunte só os pandeiro,
As frauta, os viulino e pé-de-bode.
Assunte! A procissão natalina puraqui passará!
E despois fazíamos sempre o sinal da cruz.
Naquela pouca idade, eu nem sabia o motivo do sinal.
Apois, mas o fazia e calava a fome de ceia
Com um Amém próximo do bom dia!
In: [CANTIGA PROSADA II, Sob os sinos do Natal, Literacidade: Belém do Pará]