Quem me cobrará o beijo de amor que não dei
Quem me execrara por nojo do escarro que cuspi
E emocionara-se com lágrimas que não derrubei
E verá as fotos que não tirei, momentos que não vivi...
Horas, quem me ditara as minhas horas ao tempo
E assim tentará controlar o que eu nem mesmo tenho
Ou talvez como pecador, eu seja jogado ao vento
Destino, vida, viver sem saber de onde venho...
Quem se julgará ao meu lado tão perfeito
Sê perfeito és, atire-me então a primeira pedra
Castigue-me, se te achas agora no direito
E de desalento, o meu olhar que por ti não medra...
Quem é religioso o tanto, para chamar-me de incrédulo
Será santo, para se achar no direito de medir minha fé
E quem dessecará minha química como um régulo
Se sofro uma metamorfose por uma xícara de café...
Meu bem querer, quem será num todo para mim... intenso
A ponto de não ser insubstituível, como um regalo inútil
Quem terá capacidade de saber o que quero, o que penso
E não achara em mim, apenas um ponto de desejo fútil...
Quem verá em minhas entrelinhas, o que eu deixei de dizer
E sê eu não falei, é porque eu quis permanecer calado
Pois eu mesmo não queria relatar o que deixei de fazer
E quem dirá, que por não falar, cometi um grande pecado...
E quem beberá de meu vinho, e virará minha taça
E com minhas desventuras, sentirá o que eu não senti
Pois se eu postulei isso como uma mera desgraça
Então quem com isso terá o poder de dizer que menti...
Não, eu não estou sofrendo, eu não estou desabafando
Isso é apenas um contexto de minha poética variação
E assim estou apenas aos meus fantasmas exorcizando
E quem entendera, que não quero pregar alguma lição...