Numa cidade onde nada se conhece, é difícil andar nas ruas e relacionar caras.
Numa em que se conhece há anos, difícil torna-se desvendar os rostos e desembrulhar o que se esconde por baixo, enterrado entre as histórias, boatos, figuras feitas de cada pessoa que nos atravessou o caminho ou que nos é conhecida por muitas vezes a termos visto na mesma rua que a nossa, no mesmo café que o nosso…
Numa vida em que nada corre, agarram-se os sonhos à nossa pele, ansiando aquelas pequenas coisas, que num olhar distante, nos parecem enormes, precisas.
Numa vida em que pouco se deixa para trás, em que tudo se quer viver antes que o sol se ponha para anunciar o Inverno, é relutante qualquer pecado de nós que se desvendou, ou se desfigurou. Acaba por não importar, por toda a agitação não nos permitir ver, quanto mais deixar-nos aperceber de um borrão.
Qualquer das maneiras, não parece importar.
Qualquer que seja a cidade, qualquer que seja a vida, estamos um dia destinados a pedir perdão, a fingir um sorriso, a mandar um olhar que não devia ser mandado, a conter palavras para compensar aquelas que foram lançadas, estamos destinados a não esquecer, a esbater memórias de modo a que não doa tão vivamente.
Qualquer das maneiras, um dia a cidade muda, a vida corre, e o sol...põe-se.
Lau'Ra