Cada cidade pode ser outra
quando o amor a transfigura
cada cidade pode ser tantas
quantos amorosos a recorram
o amor passa pelos parques
quase sem vê-los mas amando-os
entre a festa dos pássaros
e a homilia dos pinheiros
cada cidade pode ser outra
quando o amor pinta os muros
e dos rostos que entardecem
a gente é o rosto do amor
o amor vem e vai e regressa
e a cidade é a testemunha
de seus abraços e crepúsculos
de suas bonanças e aguaceiros
e se o amor vai e não volta
a cidade cuida do seu outro
já que lhe sobram só o luto
e as estátuas do amor.
Mário Benedetti, poeta e escritor uruguaio (1920-2009).
Imagem: Jerusalém, Israel.