Acorda-me, se puderes.
Acorda-me, se quiseres.
Planeia um sorriso e lança-mo.
Não tenho tido palavras. E, estranhamente, delas não preciso.
Num olhar protestante, regenei-te. Mas, diz-me, o que podia fazer, quando me empurro a mim mesma, num acto de pura revolta, para me afastar?
Anseio o desconhecido, mas, numa forma mística, recuso-me por não ter rosto. E se o tenho, não o reconheço.
Não soube amar. Não sei amar. E intriga-me, se amar é sentir e eu sinto tudo, não sentindo nada.
Arrepio-me, quando há vento. Assalta-me a pobreza, quando a abundância me vem.
Qualquer das maneiras, toca para mim. Num rosto escuro, deslavado, nas mais puras das nudezas e virgindades, em volto de uma barba rija, velha, aconchega-te na poltrona, descansa a guitarra nómada sobre o colo e toca para mim.
Toca uma música velha que eu sabia cantarolar, inspira-me com a rebeldia de cada acorde, num movimento rápido de dedos, tão rápido como um olhar que basta para tudo dizer, sem nada ser dito.
Não te amo, porque não sei amar. E logo eu, que penso que sei tudo, faltando-me ainda tanto na sabedoria.
Nasci ontem, num impulso. E como cada impulso, há momentos em que o arrependo e outros em que o emolduro.
Ensina então esta besta que não sabe amar.
Olhos castanhos profundos, que estendem a nostalgia por pestanas longas. Doce toque de mãos que outros dedos entre os seus já albergaram.
Uma perfeita fotografia que me soa a mentira.
Tudo me soa a mentira: um cigarro mal fumado, uma palavra íntima, um desejo de posse de uma outra carne e ossos, se forem os meus.
Embala-me a mente, desapega-me dela.
Vinca-me as rugas da expressão com um sorriso que não ame, mas abrace, que te queria só meu.
Ando adormecida, no meio de um jeito de não poder amar. Desajeita-me, então.
Abala-me o que nunca foi abalado.
E todo este tempo, eu dormi. Por isso, toca numa manhã virginal, de um branco puro, mas triste que corrompa as cortinas, como a ideia do Céu corrompe a vida.
E como se eu acreditasse nele, toca-me uma melodia suave que venha de longe, chamando.
Dormi tanto.
Então, acorda-me se quiseres.
Acorda-me, se puderes.
Lau'Ra