Poemas : 

O boêmio borrado

 
O boêmio borrado
(Mauro Leal)

No coladinho do arrasta pé nas macegas do Chaparral ao Alecrim
ao som da sanfona, da viola e do bandolim
seus requebradinhos no estilo, impressionava,
a poeira levantava e interesses despertava,
e na pontinha da orelhinha da donzela
com seus envolventes e irresistíveis xavecos, conquistava.

E nesta fascinação e excitação dos ralas cochas pra la e pra cá,
começou aquela gororoba de pirão de tainha
ao molho de camarão
regada com a robusta feijoada requentada da noite passada,
causar um piripaque, uma tremenda revolução,
deixando decepcionado e em mal situação o encantador rebolador
com as "tripas" à estremecer,
os "puns puruns, pumpuns", contorcendo pra conter,
e com o piriri na beiradinha da "rosquinha enrugadinha"
a ponto de explodi
e esparramar e o salão de chão batido todo borrar,
obrigando os forrozeiros o nariz a tapar,
pirulitar do lugar e outros a irritar,
pela insuportável catinga que empesteava o empoeirado ar.

E antes mesmo do sanfoneiro com o violeiro,
parar para seu birinaite beiçar,
sussurrou no ouvido da musa-matusquela:
- vou ali liberar o "mandela" e por favor meu querido amor
não saia da "passarela",
e em disparada se embrenhou por entre a mata fechada
e por cima da moita de capim navalha
despejou uma desesperada "barrigada".

Depois de escorregar a "morena", olhou para os lados
e fez uso das folhas molhadas,
saindo desajeitado meio que desconfiado, apressado e suado,
retornando para o animado baile bombado,
a reencontrar sua apaixonada rapariga,
desolada, sentada cabisbaixa,
e cavaleirosamente seus braços estende
à convidá-la pra novamente bailar.

De posse da conquistada princesa em seu peito a rodopiar,
piorava o cheiro nauseabundo carniceiro de "urubu empanado"
e cada vez mais incomodava e a gafieira agonizava.

O povo do salão que alegremente se divertia
à branda luz do lampião,
começou a inquietar-se e as narinas desesperadamente abanar
pois não estavam mais a fedentina pavorosa suportar,
e pressentir que algo sinistro estava a acontecer e fortes indícios
levavam a crer que a segurança iria entrar em ação
pois já estavam todos aloprados pela fétida respiração.

E quanto mais requebrava e nos traseiros dos forrozeiros roçava
mais a carniça pela festa espalhava,
o mal-estar agravava e endoidava
até que no serenar do amanhecer,
foram perceber que a desesperada catinga maldita
era titica aguarrada no suspensório do boêmio sedutor.

 
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MauroLeal
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