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Outros Natais

 
Outros Natais
 
Naquele tempo não havia Natal lá em casa. Sabíamos que era Natal porque o calendário pendurado na parede do fundo da escada o anunciava com o 25 a vermelho. Depois era só esperar pelas vésperas, altura em que a nossa excitação crescia com a expectativa da chegada dos meus padrinhos com os filhos(os nossos companheiros das brincadeiras das férias grandes) cujos avós os esperavam fervendo em ânsias de saudades. Moravam ali mesmo, na casa ao lado da nossa. De maneira que, sempre que roncava um carro pela rua acima, precipitávamo-nos de imediato para a janela a confirmar a tão desejada vinda. Depois... bem, depois era o reboliço das vozes, dos abraços e dos beijinhos. - Então compadre, como é que isso vai? - E a comadre, vai melhorzinha? - Para nós, era como se fossem da nossa família. Pelo menos era assim que o sentíamos, como se fossem nossos também!
O ritual de descarregar o carro onde malas, caixotes e sacos se erguiam numa revoada de alegria.
No dia seguinte, logo de manhãzinha, o caminho do pinhal era o mais certo dos caminhos, por causa de escolher um pinheiro jeitoso onde fitas douradas e vermelhas, bolas de prata e de ouro se encavalitavam nos ramos vestidos de luzinhas a piscar e neve que parecia farinha polvilhando de branco o verde da caruma. E ali ficava, majestosamente a acoitar um presépio onde figurinhas de barro se enterravam no musgo fresco e húmido da chuva. De modo que, o nosso Natal se resumia a todo aquele ininterrupto piscar colorido que observávamos cá de baixo (por vezes empoleiradas em cima do muro para ficar mais perto) através dos vidros embaciados da marquise e que nos encantava até à alma, mesmo sabendo que era só dos outros...
Depois, voltávamos para casa onde umas filhós acabadas de fazer, uma caneca de chá de limão a ferver e uma fatia de bolo-rei a cada um, a prometer-nos a sorte do brinde ou o azar da fava
Nesse tempo nem sequer se ouvia falar do Pai Natal. Diziam que era o Menino- Jesus quem dava as prendas... eu só fui contemplada numa ocasião, quando, ao acordar no dia de Natal, reparei que ali tinha "nascido" um regadorzito de plástico azul. Não me lembro de que alguma vez tenha regado o que quer que fosse com ele..


*... vivo na renovação dos sentidos, junto da antiguidade das lembranças, em frente das emoções...»

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cleo
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Enviado por Tópico
Betha Mendonça
Publicado: 17/12/2013 22:22  Atualizado: 17/12/2013 22:22
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Mensagens: 6700
 Re: Outros Natais
Belo e emocionante o teu texto.
Com o real espírito do natal:
amor e confraternização.
bjs