Vim com uma mão cheia de tudo.
Ouvi-te então a aproximar, em passos mudos.
Vim com os olhos grandes para tudo ver, com os ouvidos ampliados para tudo ouvir e as mãos pequeninas para em cada esquina e canto caberem, e apalparem, conhecerem.
E nelas trazia tudo.
As palavras caiam através de mim, ainda por construir, o chão parecia mais perto e a queda mais lenta.
Hoje tudo são apenas movimentos que me apagam, palavras que me encurtam, gestos que me esborratam.
E, nesse tempo de infante, tinha tudo em ambas as mãos.
Foi depois que olhei a porta, vi-te no teu poder destruidor, percorri a tua sombra, enquanto ainda agarrava com os dedos o boneco de flanela, até a tua figura se tornar concreta, fazendo-me encolher.
Vieste em surdina, pegaste-me ao colo para logo me mandares para um mundo que eu não queria, não podia logo ver.
Não me deste um beijo, não me deste um abraço, nem um toque confortante nas costas.
Não colocaste a tua mão sobre a minha, tão pequenina, mas capaz de devorar a tua, agarrá-la toda.
E eu que tinha tudo nas mãos.
Olha para elas agora, estendidas pelo chão, abertas, cansadas de gestos de revolta.
Olha para mim, para os meus olhos, agora pequeninos, cansados de tanto ver.
(E esta boca, reformada de tanto argumentar...)
Olha e diz-me o que vês.
Nada.
Desconstruíste-me, rasgaste-me o rosto, desfizeste-me os traços, baralhaste-me os pedaços.
Oh mãe, e eu que tinha tudo nas mãos!
Lau'Ra