“ Tendo já repousado o corpo lasso,
Segui pela deserta falda avante;
Mais baixo sendo o pé firme no passo.
Eis da subida quase ao mesmo instante
Assoma ágil e rápida pantera
Tendo a pele por malhas cambiante.”
A Divina Comédia - Inferno, canto i
Triste espírito demoníaco de exílio sobrevoou a Terra do pecado,
dos melhores dias das memórias antes dele numa multidão densa;
ledos dias em que na morada da luz brilha ele querubim alquebrado,
ao receber da cauda de um cometa, saudação, afetuosa recompensa.
Quando através de brumas eternas, ganancioso, observou caravanas,
aglomerações sem beiras, nômades no espaço abandonado luminares;
quando tanto infeliz da criação, ora primogênito das estirpes toscanas,
não tinha raiva, sem embargos não ameaçava as mentes, nem altares.
Como sempre, como uno pária vagou no deserto do mundo, sem abrigo;
século após século fugiu. Como soava monótona sucessão dos minutos,
no chão árido, semeou mal sem prazer, encontrou sequer um postigo.
Martirizada mente, como faceta do diamante, eterno na neve brilhou,
circulando na altura azul os animais de montanha, aves e seres brutos;
as nuvens de ouro das terras do sul, de longe sua despedida marcou.