Quinta-feira, 15 de Fevereiro. Eu me apaixono por você. Não lembro bem da sua roupa, talvez marrom e verde, eu não me recordo bem. Você estava com seu irmão, descia a Reginaldo Alvez e seus cabelos tinham sido levantados e presos no alto de sua cabeça. Eu tinha quatorze, você doze. Nossa, eu fiquei afim de você ali.
1994. Você começa a falar comigo, depois que a encontro no ponto de ônibus. Me pergunta sobre minhas notas, eu minto. Você não sabe, mas naquele dia eu tinha ido para a recuperação apenas para lhe vê. Sentamos longe, na sala, no ônibus. Você sorriu para mim e eu só desci um ponto depois. Voltei para casa a pé. Cumprimentei todos em minha casa. Jantei na mesa e lavei meu prato. Beijei o rosto de minha mãe, meus avós e meu pai. Felicidade faz isso na gente. Deitei em minha cama e apostei comigo mesmo que antes do fim do ano eu a beijaria.
10 horas. Atrás do prédio da coordenação da nossa escola. Foi lá nosso primeiro beijo e um pouco mais. Somente dois anos depois. O sinal tocava enquanto você me devorava como um biscoito e me deixava confuso a seu respeito e a meu respeito. Você seria mais experiente do que eu? Minha primeira insegurança.
Verão você me pediu em namoro e eu não disse nada. Já não estávamos namorando? Minha fidelidade a você iniciou-se no primeiro olhar que pousei em seu ser. Eu passei a viver a vida desde que a conheci. Não que você seja o centro do meu mundo, ou necessária ao ponto de iguala-se ao ar. É que todas as minhas recordações iniciam-se com você e terminam com você. Como os dias com seu Sol e sua Lua. Eu acho que me perdi, pois é tudo contradição.
3º lugar em engenharia. Eu tinha passado no vestibular e você ganhado uma bolsa de estudos em outra cidade. A sua leveza ao me contar que iria embora e levaria com você as minhas tardes na escada. Levaria minha companhia na volta para casa. Levava com você os sábados que dormíamos juntos em seu quarto. Sua expressão era tal que de sua boca ouvia uma explicação sobre fotossíntese. Você se importou comigo. O toque de sua mão sobre a minha. O incentivo ao sorriso. O pedido de desculpas sussurrado como um adeus de nunca mais. Não houve erro em você. O erro foi eu me importei mais comigo no momento que me coube.
Era um dia qualquer, de um ano que passou e não quis saber a hora. Eu deixei de lhe amar. Fiquei triste comigo. Não esperava isso de meu coração. Você foi a melhor dor em minha alma. E eu sei que nunca mais haverá outra dor como a que senti por você. Seu rosto expressivo não me afetará mais. Eu fiz essa escolha. A escolha de não me perder para encontrá-la. Quero e devo ser o meu melhor amigo. Eu conheço minha tristeza e apenas eu posso apaziguá-la. A solidão não é tão cinza. Como hoje, ela tem um tom verde como os seus olhos.
Assim que nos separamos Lívia, eu a segui. Fui até sua casa e esperei que aparecesse em uma de suas visitas de final de semana. Foi tão bom lhe ver de longe. Há no olhar escondido o melhor dos segredos. Você conspira consigo e não é feio, mas parece ser. Um homem ao seu lado lhe dizia algo em seu ouvido enquanto a abraçava. Um segredo? Uma piada? Os dois, pois nunca me contará se foi de graça ou se foi de prazer que sua gargalhada apagou a luz do meu dia.