Olhai! Texto
Apreciem comigo mesmo em imaginação esta vista que vos ofereço com agrado e prazer. Esta praça é grande e está empedrada á antiga portuguesa ou seja feita por experimentados artífices muito calejados, de tempos idos onde tudo era feito por calceteiros de formação e bem orientados. Não tem arabescos é singelo e as pedras gastas e luzidias de tanto repisadas por muitos burros de carga cavalos e mulas
que outrora puxavam carroças e trens. Das botas grosseiras de solas cardadas de carroceiros, trabalhadores e gente do povo que percorriam todas as antigas ruas e vielas vendendo os produtos das quintas dos ricos homens e das suas pequenas courelas que nessa altura eram biológicas e sem artifícios para crescerem mais bonitos e mais depressa, não, tudo como a Natureza dava. Tudo natural e saudável com muito esforço mas que resultava em benefício das populações. Os médicos sempre foram precisos e indispensáveis mas geralmente eram as mesinhas caseiras as receitadas. Boas plantas medicinais que cresciam espontâneas, pelos campos. Mas isso já é outra conversa. Vejo que me perdi um pouco nesta citação, mas vou continuar.
Os prédios são antigos como a calçada, já de certeza reconstruída depois do grande terramoto de 1775. São modestos, estreitos, janelas pombalinas e as portas baixas
com cimalhas e cornijas por cima dos beirais, os candeeiros hoje eletrificados conservam a traça, sobressaindo das paredes, são de ferro forjado com as lâmpadas salientes dos pratos refletores de zinco. Varandas muito estreitas, de ferro e pintadas quase sempre de verde, cheias de vasos floridos de craveiros e as mais variadas flores principalmente sardinheiras, o perfume é pouco simpático, mas muito garridas. Tem um arco muito pitoresco que dá acesso a uma viela de casas baixinhas com um outro arco e escadinhas.
Mais ao lado outra escadaria íngreme e escalavrada com um muro de apoio muito bem caiado com pincel e cal viva, assim como os degraus na parte de baixo, altos e custosos de subir, onde por acaso vai uma varina, ainda um pouco vestida á moda antiga . A saia travada um xaile enrolado à cintura onde aparece um avental, um lenço floreado cobre-lhe a cabeça atado na nuca, uma das mãos segura a canastra e parece apregoando peixe fresquinho… As cordas de roupa passadas de janela para janela são coloridas de peças
estendidas e presas com molas de plástico de várias cores que vão ondulando com o vento brando e deitam um cheirinho a sabão que consola. Estão impecáveis. Pequenas tábuas encavalitadas em peanhas servem de prateleiras para pequenos vasinhos floridos que pelas paredes dão graça e frescor. Ao fundo mais prédios de postigos
e cortinas apanhadas e graciosas. Este conjunto tem uma beleza medieval. Visitem esta Lisboa profunda e sei que não sairão dececpcionados, tenho a certeza. Um conselho grátis…
Vólena