Ela era brilhante
Um puro diamante
Vivia ainda solitária
A sua vida diária
Aos três anos sabia
Tudo o que queria
E queria tudo saber
Tinha pressa de crescer
Ele era magro
Alto como um espargo
Às vezes irreverente
Mas muito inteligente
Aos três anos sabia
Como a vida o trataria
Sabia como falar
E a arte de encantar
O tempo os fez crescer
Separados sem se ver
Em mundos diferentes
Criados pelos parentes
A adolescência chegou
E ela tudo adorou
A escola nem por isso
Era chata, um enguiço
Pensava que tudo sabia
E aprender mais não queria
Para quê saber mais
Se sabia mais que os pais
Ele e a adolescência
Foi preciso muita paciência
A raiva subia por nada
Andava sempre à pancada
Mas na escola melhorara
Enquanto o resto piorara
Revelou-se pessoa genial
De um mau feitio excecional
Ela desistiu da escola
E foi com a tia para Angola
Queria ver mais de tudo
Que não precisasse de estudo
Ali ficou alguns anos
Convidada dos Angolanos
Até que com um deles casou
E um dia, este a abandonou
Ele por seu lado
Nunca foi casado
Continuou isolado
Amargo e irritado
E Chegaram os trinta
Sem que nada se sinta
Apenas a simples tristeza
De viver ainda a incerteza
Ela a Portugal voltou
Ele o emprego abandonou
Empregada de mesa ela ficou
Ele, apenas o feitio piorou
E num dia no restaurante
Onde ela atendia com desplante
Foi ele pedinchar para sobreviver
Algo que lhe dessem de comer
Olhando para aquela cara
No momento em que tudo para
Bateu o seu coração com tremor
Ele estava destinado a ser o seu amor
Ele também sentiu a emoção
Caíram-lhe as moedas da mão
Olhou para ela deslumbrado
Agora de tudo alheado
E assim nasceu o seu amor
Do fogo que arde sem calor
E tudo pareceu de novo brilhar
Para a vida de ambos iluminar
Ele arranjou novo trabalho
Como cortador num talho
Ela foi promovida a gestora
Função mais animadora
Casaram meses depois
Filhos fizeram dois
Um casalinho a ver
Manel e Maria a crescer
Os sonhos voltaram
Pois nunca os abandonaram
Apenas viviam adormecidos
Temporariamente esquecidos
Mas um dia aconteceu
Ele não ligou nem apareceu
Bateram-lhe à porta chamando-a
Era a Policia informando-a
Tinha sido um mero assalto
Um miúdo magro e alto
Ele tinha tentado com ele falar
Tentado as coisas remediar
Ofereceu-se para o ajudar
Tentou-o mesmo abraçar
Para da desgraça o consolar
O dedo nervoso não quis esperar
Disparou a bala que o foi matar
E assim nasceu o amor
Que continua com a dor
Ela não mais casou
Lembrando aquele…
…que tanto amou