Hoje um rio secou
Mas já não é sua a saudade
De todos os leitos que fez
E das pedras que em si transportou
Turbilhões e suspensões de fé
Clamando pela verdade da corrente.
Choram-no as brancas manhãs de primavera
Que aprenderam a olhar as sombras
Como a sua surpresa do dia.
Amam-no as nuvens carregadas
Que ensaiam com ventos as tempestades
E perante um imberbe olhar
Trovejam lá longe mais além.
Foste rio Madiba, um só sentido
Uma meiga voz de forças que existem
Verdade, realeza e uma súplica de risos
Que galgaram margens por fim transponíveis.
Uma vitória! Não! Só mais uma história.
E na desforra da luta e do cansaço
Quando mais apetecem néctares e ambrósias
Tomaste para ti dois lenços do chão
Um era castanho por seu todo ali à vista
E o outro era branco com manchas de lama
Foi então que rompestes a chorar sozinho
Pela tua cara as lágrimas de um próprio rio
Pela tua casa dois lenços se lavando
Porque estavam ambos sujos. Se o não visses...
E assim foste secando. Pelos outros todos.
Adeus Nélson. A tua água não se perdeu.