Era o mesmo mágico mascarado. Não apresentou nenhum truque novo. Acho até que a top sul africana estava meio descontente, não usava a grife preferida de blue jeans modeladores. Instigantes detalhes casuísticos deixam feliz o bêbado ali presente, metido em calças surradas de tergal azul. Mas, ambos se mostravam inquietos diante das visitas, até que se abriram as portas do museu para entrada; triunfantes madrinhas surgiram em tafetás de rosa.
Olhos encimados por vistosos chapéus de soirée, conformados com os acontecimentos, não queriam ver a festa interrompida diante dos convivas masculinos, todos confiantes no milagre azul apresentado pelo pianista. Mas o músico estava engasgado após prometer uma ária de Mozart e executar a mazurca, forçando a separação dos dias na folhinha.
Nem todos dali ainda haviam tomado lugares na mesa; alguns vips prometeram chegar mais tarde para não perderem as piadas do pianista envergonhado, nem deixarem de dar tapinhas nos ombros dos figurões. Mas tudo neste mundo tem seu preço, nada é gratuito, o tempo de espera é imprescindível para que eventos não sejam interrompidos.
A top e o bêbado equilibrista sempre foram sérios candidatos,
apesar de não se conhecerem desde a infância, apesar dos dispares estilos de vida, carregavam grandes perspectivas procurando em algum lugar, coragem para cruzar a linha traçada no meio do deserto, externando a sensualidade recíproca em que estavam mergulhados. A top decidiu amaldiçoar os presentes recitando mantras, sob indecifrável fundo musical. O bêbado trapezista contava piadas proporcionando uma chance para o maestro que saiu em surdina ao som de czardas em ré bemol.
As piadas eram impagáveis, contudo as pessoas não riram, os presentes deitaram-se saboreando coquetéis de pêssego com champanhe filtrada doce, avançando famélicos ansiosos sobre a bandeja de canapés estapeando-se pela empadinha. A top pensava na carreira, não queria constituir família; o bêbado toureiro não terminou os estudos, recém saído de um casamento malogrado procurava recompor-se.
Na cama perfilados os presentes dos amigos mais leais, havia flores nas janelas e carne em pedaços na panela com farinha. Foi mesmo estranho: quando meninas entraram no salão, soava a marcha nupcial enquanto
levavam em almofadas um par de alianças recebidas de brinde pelo bêbado ao comprar dez garrafas de vodca polonesa. Conversas descontraídas deram lugar a olhares curiosos, zum zum zum sobre o figurino do vestido da noiva; dizem que preferia se apresentar nua e depilada, com chapéu coco, Chanel nº5 e uma taça de Perdignon.
A top perguntava que estaria fazendo de errado já que havia consultado um meteorologista para previsão querendo afastar as tempestades nas tulipas de cristal. Finalmente, ao som dos instrumentos, um piano, dois violinos e um cello medieval, escoltada pelos entregadores de refrescos, irrompeu pela nave novel nubente: nívea noiva nua navegando nostálgica, fazendo perderem a respiração os pais e todos os padrinhos.
Irônica, a vida providenciara um par para a top exagerada chamada Star; de todos os bares, celeiros e moinhos, pessoas maravilhadas saudaram o noivo ciclista que bebia a saideira empoleirado no telefone, gritando ao mundo que seu nome era Ringo.
Jovial ao extremo, entre multidão de visons, deixou ultimarem as badaladas do carrilhão familiar, dispensou logo o taxi que esperava à porta privê, declarando à top que já requisitava força militar, com total apoio do maestro que voltara sorrateiro enquanto era executada a Polonese :
- Aceito! Há tempos estou apaixonado por você....
" ...descrevo sem fazer desfeita,
meu sofrer e meus amores
não preciso de receita
muito menos prescritores."