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Eu troco o branco do varal.
Tenho agora dificuldade
em lançar-me
para além da paisagem
atual,
plena,
e escrever poema
com pena metálica,
esferográfica.
O redor de mim
quer virar letra.
Carros e ruídos surdos.
Minha inconveniência pedestre
em meio ao mar de lata.
Iluminação pública.
Sombras projetadas
dos seres noturnos
em suas sinas
de pedestres
rumo ao dia final.
Um dia inteiro
inclui a noite.
Noite não tem dia não.
O varal é de pendurar poemas
ou sensações de poemas.
A sensação
é uma fúria repentina
de um poema impulsivo
que não tem tempo
de enletrar-se,
travestir-se de verbo
em meus versos.
É como um espirro
eliciado por um instante-já.
É a coxa da morena.
É o pio do sabiá.
Eu cuspo a matéria-poema
(catarro psicodélico)
sobre o lenço branco
e penduro no varal.
O sol se encarrega da forma
e desinfecção.
Quando retorno ao varal
é que venho escrever aqui.
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