É atroz e desafiante
ao mesmo tempo reconfortante,
cinco anos aqui…sozinho comigo
nesta prisão de ardósia talhada
onde está a sanidade encerrada
e eu bem lhes digo…
Grito, choro, revolvo-me
por dentro e fora…e…envolvo-me
choro por mim, o que fui e agora
sou fotocópia gasta e rasgada
prestes a perder também a alma
e eu bem lhes digo na hora…
em que o calor transborda
acutilante mas não corta a corda
por onde subo na loucura crescendo
e já fui tão normal…mas o que é normal
família, amigos e emprego ideal?
E eu bem lhes vou dizendo…
Que algo em mim quebrou-se
A loucura de mim apoderou-se
A insanidade que nos faz falar
Dizer sem querer toda a verdade
Sem temer indiscrição nem reatividade
As drogas obrigam-me a calar…
Anestesiado para estar calado
Para ignorar o peso deste fardo
Adormecendo os sentidos caóticos
Opalescendo as emoções contidas
Amolecendo a dor de minhas feridas
E eu bem lhes digo, seres simbióticos
Que o abismo que se aprofunda aqui
Nem é metade da loucura que senti
Resto apenas eu, limpo e mudo
E eu bem lhes disse, disse-lhes tudo